quarta-feira, janeiro 25, 2006

Que no final a Justiça vença!

Nelson Crespo*

Começo aqui minha colaboração com o Blog do Roberto Moraes, meu colega de CEFET e de tantas lutas ao longo de mais de mais de 20 anos! (desde os tempos do PMDB jovem!) falando sobre um assunto que parece estar encaminhando para a sua solução final, mas que no meu entender o desfecho está longe de agradar a maioria do povo campista: eu falo da anulação e das novas eleições para prefeito de Campos dos Goytacazes.

Quero fazer uma análise aqui defendendo que a decisão final pode ser até legal, mas ser for a atual a justiça não terá sido feita. Separo aqui, para horror de alguns juristas e muitos positivistas o conceito de Lei e Justiça, mas esse é assunto pra outra discussão...

Quando iniciou-se o processo eleitoral em 2004, as pesquisas eleitorais indicavam a vantagem para o candidato Paulo Feijó, que pretendia ser oposição ao grupo político que dominava o cenário municipal desde 1988, mas que pela primeira vez encontrava-se claramente rachado entre duas candidaturas que representavam lideranças com força política real no município (pois houveram outras dissidências mas estas eram “ pulverizadas” pelo líder maior e o grupo se apresentava unido na hora das eleições municipais).

Uma claramente identificada com o governo estadual, e desde o início com indícios de uso da “maquina política” do governo do casal Garotinho, e a outra representada pela candidatura de Carlos Alberto Campista (mais um “desafeto” de Garotinho) mas, que, embora assumisse claramente na sua campanha a condição de candidato da situação - (e portanto contanto com a “máquina política” municipal) tanto que um dos seus “slogans” era “Campista é Arnaldo de novo!”- diversas fontes confirmavam que ele não seria um candidato “puro sangue” do grupo político do prefeito Arnaldo.

Este, abalado por diversas denúncias e até condenações iniciais por improbidade administrativa, havia optado por um candidato de perfil mais transparente para negociar a sua situação num possível segundo turno entre as candidaturas favoritas na época, então Feijó e Geraldo Pudim.

Ocorre que, por erros administrativos em sua própria campanha e atrapalhado pelo crescimento da candidatura do PT, cuja maioria recusara formar uma frente contra o grupo político até então dominante, a candidato Feijó foi perdendo terreno e na reta final, onde as “máquinas políticas” estadual e municipal não pouparam a população de um espetáculo tristemente deprimente de “compra de votos” que levou Campos às manchetes nacionais, Feijó foi ultrapassado por Pudim e depois pelo próprio Campista, que foram para o segundo turno.

Todos sabemos que o segundo turno é na verdade uma outra eleição e em Campos não foi diferente. O que quero afirmar aqui é que o segundo turno, não foi dominado por “máquinas políticas”, uma vez que a decisão do mesmo estava nas mãos justamente daqueles que não votaram nas candidaturas das máquinas.

O que aconteceu é que o eleitorado viu no perfil de Campista a condição de representar uma forma de governo contrária a tudo o que significava o modo de governar do casal Garotinho e foi exatamente o que deu a vitória à Campista no final: a grande maioria dos eleitores de Feijó e do PT fizeram voto útil e elegeram (inclusive com menor número de abstenções e votos nulos do que no 1o turno) o candidato anti-Garotinho.
Assim Campista toma posse numa encruzilhada política: de um lado tem que atender às demandas da “máquina política” que o colocou no segundo turno e de outro, a expectativa de um governo transparente administrativamente e anti-corrupção que representava a maioria dos anseios que o levaram à vitória final.

Quero afirmar aqui que, baseados em fatos e fontes que vi e ouvi, os poucos meses do seu mandato foram muita mais na direção da segunda perspectiva, o que gerou inclusive “protestos veementes” dos comandantes de muitos descalabros administrativos que pareciam ser a marca da administração anterior.

A anulação das eleições não será por mim questionada por ser ela juridicamente perfeita (segundo os entendidos) e de natureza profundamente democrática. O problema é que a democracia política brasileira só será alcançada com uma ampla Reforma Política que ainda não aconteceu e os fatos que se seguiram iriam mostrar que a democracia ficou mesmo apenas na primeira instância e no grande ato da juíza Denise Apolinnário.

O poder municipal foi para o presidente da Câmara, como determina a lei, mas este sim era um legítimo “sangue puro” do grupo de Arnaldo, enquanto o TRE-RJ, numa série incrível de “coincidências”, dava seguidas sentenças que favoreciam o PMDB e os seus candidatos (e não só em Campos!)

As novas eleições que parecem agora se aproximar (com Campista sendo o único que não pode ser candidato!) me deixam pessimista, pois, parece que a disputa final no atual quadro vai ser mesmo entre o populismo estadual e municipal, afinal as “máquinas” estão aí, intactas.
Só me resta torcer para que no apagar das luzes, a Justiça mostre que como cega que é, assim “como os poetas” “possa ver na escuridão” e devolva o mandato à Campista, mas para que ele possa ser não “Arnaldo de novo” e muito menos Garotinho outra vez, pois quando teve oportunidade, o povo campista mostrou que isto não quer nunca mais para a nossa terra.

*Nelson Crespo é sociólogo e professor do CEFET Campos e da Escola de Serviço Social da UFF.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Porto Real

“Mais do que o Know-How, o Brasil precisa de Know-Why”
M.R.Robert Moreau

Porto Real foi elevada à condição de cidade há dez anos, até então, pertencia ao município de Resende e era caracterizada por ser uma colônia de imigrantes italianos vindos em meados do século 19 e com profundas raízes no setor agropecuário. A maior indústria até a vinda das montadoras de automóveis era uma engarrafadora da Coca-Cola onde antes funcionava uma refinaria de açúcar, que cada vez se expande mais.
Até o “boom” automobilístico, Porto Real era uma localidade dependente de Resende e Barra Mansa. As pessoas que necessitavam aprimorar seus conhecimentos iam buscá-los em outras localidades. Hoje esta dependência ainda existe, porém, em menor escala.

Embora a fábrica da Volkswagen esteja localizada no município de Resende (outro lado do Rio Paraíba) a proximidade com Porto Real, leva a pensar que esteja localizada “no lado de cá” do rio Paraíba.
Com a chegada da Volkswagen, a reboque, vieram a Peugeot e outras empresas que integram os módulos para montagem de veículos. Uma delas é a Guardian. Com capital espanhol, veio com uma planta mundial, atraída pelos baixos custos de fabricação, mesmo com toda a cadeia de impostos. A Guardian hoje exporta cerca de 30% de sua produção.

Por serem descendentes de italianos, há um espírito de fraternidade que os une e todos se autoclassificam como parentes e ainda há coisas que só vi em cidade pequena do estado de São Paulo, como deixar as frutas caídas no dia anterior no muro para quem desejar apanhá-las, crianças brincando à noite nas ruas, pessoas conversando na calçada, céu estrelado, fazer caminhada no mato e ver pássaros silvestres, não ter barulho de buzina, ufa, e tudo isso no meio do caminho entre o Rio de Janeiro e São Paulo!
É claro que houve necessidade de atrair mão-de-obra capacitada e a cidade foi aos poucos se adaptando à expansão, com instalação de hotel, restaurantes, bancos (havia até um banco próprio, Banco Porto Real) e Resende e Penedo receberam as benesses do crescimento no setor imobiliário.

Sou por natureza um observador da alma humana, três casos me deixaram boquiabertos com a capacidade do povo brasileiro de como podem aproveitar o momento, só precisando de um empurrão (capacitação). O primeiro foi dentro da própria família, o meu cunhado (que tenho como irmão) que parecia acomodado com sua condição de motorista e com um caminhão agregado à prefeitura local, conseguiu uma oportunidade na Volks e hoje é um dos mais conceituados pilotos de testes. Vendeu seu caminhão e se dedica exclusivamente à sua atividade. Quer voltar a estudar e aprender alemão e inglês para seguir a área internacional.

O segundo caso aconteceu numa manhã quando fazia minha caminhada diária e encontro com um amigo de infância da família de minha esposa, este sem camisa e de shorts, após os cumprimentos, elogia o tempo, a natureza e a felicidade de estar num paraíso como Porto Real, pois agora estava muito feliz, pois, havia emprego para as pessoas. Pergunto se não haveria interesse de trabalhar para uma destas empresas, ele me diz que já o fez e que agora prefere a liberdade e está montando uma pequena empresa para prestar serviços para estas empresas. Este rapaz tem o primeiro grau e está se capacitando para melhorar os serviços que presta na área de construção civil. Segue a tendência mundial do setor de serviços e vai bem obrigado.

O terceiro caso foi numa oficina de mecânica de automóveis onde fiz limpeza nos bicos e a troca de velas do meu carro. O proprietário me deu uma aula de combustão e o que mais me impressionou foi o fato dele querer fazer uma avaliação de todo o sistema de injeção e assim testar o software do curso, em seu computador pessoal.

A capacitação é o fator-chave. Criatividade temos de sobra, além da vontade de trabalhar. Não necessitamos de esmolas, necessitamos de oportunidades.
Ronaldo Araújo
Engenheiro Químico

quarta-feira, janeiro 11, 2006

O bonde da história

"Quando não se sabe o caminho a seguir, qualquer caminho serve"
Ronaldo Araujo*

O Porto de Santos bateu o recorde de exportação e os produtos principais são o etanol (álcool) e açúcar (sacarose). De janeiro a outubro, foram 1.196 bilhões de litros do primeiro e 10,748 milhões de toneladas do segundo, ou seja, o agronegócio teve na indústria sucroalcooleira o título de campeão, desbancando a soja, mesmo tendo a China com um apetite voraz de quem cresce a 10% ao ano.
Nada seria possível se não tivesse como retaguarda um sistema multimodal de logística. Usinas do Oeste paulista (novo eldorado) há mais de 500 Km do Porto de Santos, utilizam o sistema hidroviário (bacia Tietê-Paraná) com transbordo em pontos estratégicos para a malha rodoviária e ferroviária.
O açúcar atingiu os mais altos níveis, seja o demerara (Bolsa de nova York) seja o branco (Bolsa de Londres). O açúcar branco será o novo filão e ainda não atingiu os níveis que podem atingir e várias usinas paulistas já estão se preparando para este novo filão, que envolverá programas rígidos de gerenciamento e qualidade, onde vigoram normas de GMP (good maufacturing practices) HACCP (harzadous analisys and critical control points), além de programas ambientais e de segurança.
Empresas na Europa e nos EUA compravam o açúcar demerara e o processavam com os padrões acima para os mercado, ou seja, agregavam valor. Agora eles estão à procura de usinas para comprar no país, pois, com a queda de subsídios houve um rebuliço geral.
O Norte Fluminense, que já capitaneou o mercado de açúcar (e álcool) no Estado do Rio de Janeiro, não aproveita este momento de crescimento no mercado nacional e mundial e nem sequer, se dá conta de sua posição geográfica privilegiada (entre os portos de Tubarão e Rio de Janeiro). Há demanda crescente, pois entrarão em operação no Brasil 51 usinas e com o crescente mercado em expansão de etanol, há estudos que indicam a necessidade de mais 80 usinas (além das 51 em construção) com moagem de 2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar cada, para atender o mercado mundial.
É bom lembrar que alguns estados dos EUA, já adicionam etanol à gasolina para fins de redução da emissão de gases na atmosfera e olha que o governo do Bush ainda não assinou o tratado de Kyoto. O Texas, estado do petróleo (Oil State, como mostra nas placas dos carros) já instalou sua primeira bomba de etanol. O Japão torce para que tenhamos um modelo de suprimentos eficiente.
O biodiesel, que se atrela à indústria sucroalcooleira, pois se trata de um produto da reação de um ácido graxo (presente em diversas oleaginoas e sebo bovino) com o etanol (ou metanol) seria um produto de sinergia entre vários campos: agricultura, educação, economia e transportes, com a fixação da família no campo, ao invés de seu deslocamento e aumento da favelização das cidades.
Nenhum êxito será obtido se houver divórcio entre o meio acadêmico e o empresarial. Este precisa também estar atento às novas idéias e tecnologias e apoiar o acadêmico. Os exemplos da Esalq, IAC, Unesp, USP e Embrapa que em diversos setores alavancaram um sem número de programas que redundaram em produtividade, qualidade, menores custos, novas técnicas de gerenciamento e controle na indústria paulista, estão sendo copiados por outros estados como Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
O momento agora caberia uma convocação do meio acadêmico para um "Task Force" (força tarefa) para sugestão de modelos na área econômica, agricultura, tributária, química, alimentícia, saúde, saneamento básico, educação, meio ambiente o enfim tudo que redunde em sair da mesmice e aproveitar o momento de crescimento mundial.
Outros dois potenciais pouco explorados na região: a mandioca que utiliza os mesmos métodos e produtos desde os índios pode gerar um amido modificado para o mercado chinês e o meio ambiente.
*Ronaldo Araújo é engenheiro químico e atua profissionalmente desde 1979. Trabalhou em cargos gerenciais na área de produção, projetos e processos em grandes empresas do ramo farmacêutico, alimentício e química fina, tais como Bayer, Tate & Lyle, Basf e Cargill. Atuou com políticas de gerenciamento seguindo regras rígidas de qualidade, segurança e meio ambiente, comuns no mundo globalizado e competitivo intra-empresas. Trabalhou nos EUA, como “plant engineer” (“espécie de faz tudo”: manutenção, projetos, processos e produção). Se auto-intitula um “peão de trecho melhorado”. Sua última atuação profissional foi como consultor na Rússia/Ucrânia, num trabalho para hidrolizar a sacarose (açúcar de cana / beterraba) e separá-lo em glucose / frutose através de equipamento industrial de cromatografia líquida.