segunda-feira, setembro 24, 2007

Conversas do Boulevard

Adoro passar minhas horas livres pelo calçadão de Campos, ali pelo começo da Rua Sete de Setembro e Boulevard Francisco de Paula Carneiro, local que os mais antigos intitularam a “Rua do Homem em Pé”. Talvez tenha adquirido este hábito com meu pai, que entre um cafezinho e outro, encontrava com suas amizades e passavam momentos de prosa sobre diversos assuntos, quase sempre relacionados ao nosso município.

Nos dias atuais, mesmo com o avanço das novas tecnologias de comunicação e informação do mundo “glocal”, ou, talvez, em conseqüência disto, as afinidades humanas ficaram, cada vez mais, frias. A reorganização do tecido social do mundo contemporâneo, o corre-corre em busca de oportunidades e da própria sobrevivência, aliada a alta competitividade que caracteriza o mundo moderno e outros tantos fatores, levaram aos seres humanos a uma mudança de comportamento no que diz respeito às relações interpessoais.

Num passado, não tão distante, era comum e, ao meu ver, altamente profícuo, dedicarmos aos amigos e companheiros uma atenção afetuosa, e carinhosa. Conversar sobre assuntos como trabalho, família, política e outros diversos assuntos, faz com que o mundo se torne mais humanizado e as relações de amizade sejam fortalecidas.

Como tenho tido tempo, por conta de uma licença médica para um tratamento de saúde, tenho estado com certa constância pelo “calçadão” do centro de Campos. Lá, tenho reencontrado velhas amizades, que passam circulando, apressadamente, diga-se de passagem, porém nunca perco a oportunidade de conversar por alguns poucos minutos e dar um abraço carinhoso no amigo, o que mata por determinado tempo à saudade que sinto deles e que o mundo moderno impôs a sociedade contemporânea.

Nestes últimos tempos, especificamente nestes dois últimos meses, as conversas no “calçadão” não tem sido outra do que política. De certa forma, o pleito municipal do ano que vem já tomou conta do senso comum. E, dentro desse espectro, os diálogos giram em torno das estratégias políticas adotadas pelo ex - governador Antony Garotinho, tendo em vista a sucessão municipal.
E, apesar de se ouvir que Anthony Garotinho está em baixa eleitoralmente, é de se ressaltar que, quase que unanimemente, todos concordam que não se pode subestimá-lo politicamente, devido ao seu carisma, ao seu alto poder de comunicação e persuasão, a sua inteligência e, principalmente, a sua capacidade de armar estratégias no conceito político.

Garotinho tem usado com muita freqüência, assíduos ataques aos dois maiores “cabos eleitorais” de Campos, quais sejam o Deputado Federal Arnaldo Vianna e o Prefeito Alexandre Mocaiber (esse principalmente por deter o poder da “caneta”), que chegam as raias da insistência, para não dizer perseguição. Tem usado diariamente os meios de comunicação a que tem acesso para, além de atacar, promover um jornalismo investigativo, a cerca de possíveis irregularidades que aconteceram e/ou estão acontecendo na administração pública municipal.

Ele está tendo acesso e divulgando informações dificíeis de se conseguir e, aos olhos de uma grande parte da população, calamitosas sobre as duas personalidades citadas acima. Mas, não entro neste mérito. Só a justiça pode se pronunciar quanto a denuncias que estão sendo feitas por ele e pelos meios de comunicação a que tem acesso.

Mas, voltando ao assunto de sua determinação, sua sabedoria e sua qualidade de estrategista político, só para clarear a mente dos meus poucos leitores, há algumas semanas atrás as manchetes nos principais meios de comunicação, não só de Campos, mas de todo Brasil, davam conta da negociação envolvendo o PMDB fluminense, o qual é o presidente estadual, com o DEM, do Prefeito do Rio de Janeiro César Maia, (até bem pouco tempo seu arquiinimigo político). As matérias noticiaram um acordo político entre o PMDB e o DEM, tendo em vistas as eleições municipais de 2008.

Agora, mais uma “bomba” está para explodir em Campos. O que se tem dito e ouvido pelos freqüentadores anônimos do “calçadão” - que poderia até ser intitulado a “boca maldita” de Campos, é que Garotinho, com o aval de Fernando Henrique Cardoso, vai intervir no PSDB fluminense, aumentando o número de partidos que se alinharão com o PMDB fluminense, para as eleições municipais de 2008. E o candidato a prefeito da coligação partidária que está articulando, seria o atual Vice-Prefeito, Roberto Henriques. Será?

Com toda essa movimentação política que tem acometido Campos nos últimos dias, o senso comum, observado nas conversas e comentários pela “boca maldita” do centro, é de se concordar que não se pode, em momento algum, subestimar a sabedoria, inteligência e a estratégia política do ex-governador, Anthony Garotinho. Parece que ele respira política 24 horas por dia.

Prof. Vitor Augusto Longo Braz
Jornalista, profissional de Educação, mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ Física, presidente da Associação dos Profissionais de Educação Física de Campos (1996 a 2000), membro do 1º Conselho Regional de Educação Física instalado no Brasil, premiado em 01/09/03 com Discóbolo de bronze pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso pelos relevantes serviços prestados a Educação Física no Estado do Rio de Janeiro.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Resposta a artigo sobre Transporte Público em Campos

No dia 11 de maio, este blogueiro, publicou no jornal Folha da Manhã de Campos o artigo “Emut – hora de abrir caminhos” que você pode reler clicando aqui. Como consequência dele recebeu um e-mail do senhor Sérgio Belém de Morais, diretor da Viação Tamandaré Ltda. cujo texto este blog acaba de transcrever abaixo:

11/05/2007

Sr. Roberto,

"Em sua matéria da Folha da Manhã de hoje, pude sentir um misto de alívio e contrariedade.
Alívio, quanto ao que foi dito sobre a má alocação do “presidente” da EMUT e sobre o “diretor” deste órgão; é a mais pura verdade e o que vem contribuindo substancialmente para a situação em que se encontra o transporte coletivo e o trânsito neste município.

Contrariedade, quando foi dito que o transporte coletivo não é eficiente e que deveria ser municipalizado temporariamente e depois devolvido às empresas.

Ora, se esta cidade se mostra acéfala em tantos setores, sem conseguir uma gestão eficiente em nenhuma área, como atribuir mais este encargo? Acredito que a idéia de “tomar” o negócio de quem não tem culpa é uma arbitrariedade de fundo ditatorial. Mesmo porque, não se trata de incompetência dos donos, que vivem neste ramo a gerações. No caso da Viação Tamandaré, vale ressaltar que pertence a um grupo que atua neste ramo com empresas na Bahia, Grande Rio, São Paulo e Minas Gerais, com uma frota total de 900 ônibus e 2500 empregos diretos. Portanto, não acredito que sejamos incompetentes.

Necessário é esclarecer, se o senhor tem conhecimento dos problemas que assolam o transporte regular nesta cidade.

As rádios ilegais existem, em diversos bairros, pelo motivo do “mau serviço” prestado pelas legalizadas?

O jogo do bicho, os bingos ilegais, caça níqueis, existem porque as loterias são ineficazes?

A invasão de camelôs e barraquinhas de alimentos por toda a cidade, deve-se ao fato do comércio regularizado não atender bem a população?

Obviamente que alguns “espertos” descobrem filões por onde ganhar dinheiro fácil, às margens da lei e não importando a quem prejudiquem, aproveitando a desestruturação e o consentimento politiqueiro do poder concedente.

Dizer que o transporte clandestino invadiu as linhas, pelo motivo das empresas regulares prestarem um mal serviço, também é uma inverdade.

É sabido que, quem utiliza o transporte clandestino, tem parentes que utilizam gratuitamente o transporte regular, seja estudante, idoso, deficiente físico ou, o que é comum encontrarmos, passes “provisórios”, fornecidos a vontade, pela EMUT.

Nenhuma empresa de transporte coletivo gostaria de deixar a desejar no tratamento aos usuários, que diretamente financiam o nosso negócio, mesmo porque seria idiotice.

O objetivo da VIAÇÃO TAMANDARÉ LTDA, é dar um tratamento de qualidade aos usuários, valendo ressaltar que nossos funcionários constantemente fazem cursos de direção defensiva, relações humanas, etc, sendo orientados de que os usuários estão em 1º lugar.

Trabalhamos com uma das tarifas mais defasadas do país, segundo revistas especializadas, sendo que os insumos básicos que compõem nossos custos não deixam de ser reajustados periodicamente. Estamos na “terra do petróleo” e pagamos mais caro pelo diesel do que em muitas cidades do interior do país.

Nos últimos anos, tivemos uma queda enorme de usuários pagantes, pelo motivo da invasão do transporte clandestino e o aumento das gratuidades. Atualmente transportamos cerca de dez mil passageiros a menos por dia, tendo que manter a frota cumprindo os mesmos horários de sempre, salvo algumas exceções.

A título de exemplos, vejamos:
● na Linha Eldorado/Centro, a empresa atende com veículos a cada 10 minutos e 08 minutos no horário de “pico”; atualmente existem mais de 50 veículos clandestinos.
● Na linha Ururaí/Centro, atendemos com veículos a cada 12 minutos e 10 minutos no horário de “pico”; atualmente existe mais de 30 veículos clandestinos.
● Na linha Guarus/Centro, atendemos com veículos a cada 10 minutos; atualmente existe mais de 20 veiculos clandestinos.
● Na linha de Goytacazes, atendemos com veículos a cada 07 minutos; atualmente existe mais de 60 veículos clandestinos.
● Na linha Centro/Pecuária, atendemos com veículos a cada 09 minutos; atualmente existe cerca de 18 veículos clandestinos.
● Na linha Penha, atendemos com veículos a cada 09 minutos; atualmente existem 20 veículos clandestinos.
● A linha do Jardim Carioca/Centro, estava sendo atendida por 04 veículos, com intervalos de 15 minutos, mesmo assim, houve a invasão de mais de 40 veículos clandestinos, e a empresa foi obrigada a retirar três dos seus veículos para diminuir os prejuizos.
● A linha Rodoviária/Lagoa de Cima/Imbé, transporta por dia 400 passageiros de gratuidade e 80 pagantes, em um total de 450 quilômetros/dia, e muitos moradores destas localidades colocam mercadorias e caixas com peixes nos ônibus, além dos seus filhos que são estudantes e viajam gratuitamente, enquanto os mesmos viajam nos carros clandestinos para a cidade.

Nossos horários são rigorosamente controlados pelos despachantes, mas sofrem interferências constantes pela falta de fluidez do sistema viário do município, como retenções nas poucas vias de acesso, por exemplo, a Av. 28 de Março, Av. Visconde do Rio Branco (Beira Valão), Av. Rui Barbosa e BR 101 em Guarus. Independente dos problemas com as pontes, este sempre foi um martírio para quem utiliza estes caminhos em horários de tráfego intenso.

A eficácia do transporte coletivo, no tangente a liberação do fluxo viário, pode ser dimensionada por um cálculo simples; um ônibus transporta um número de passageiros equivalente ao que sete kombis ou vinte carros de passeio transportam.

“O aumento significativo do número de veículos licenciados na cidade e o uso do gás em veículos com maior tempo de uso, que antes só circulavam nos finais de semana...”; não se deve a “péssima oferta de transporte público coletivo”.

Enquanto as empresa regulares sofrem com o rigor da fiscalização e os altos tributos, os clandestinos “entopem” as ruas com VANS, KOMBIS E CARROS DE PASSEIO, sem qualquer exigências, seja segurança do veículo, treinamento dos condutores ou qualquer outro item normal, para garantia e segurança do usuário. Além de trafegarem com veículos sem pagamento de licenciamento, seguro nem multas, sem qualquer documento, ou veículos com mandado de busca e apreensão e até roubados e clonados.


Se existisse um depósito público para apreensão de veículos irregulares, com certeza as ruas estariam mais livres, mas as autoridades têm se esquivado desta atribuição, sob várias alegações absurdas. Pese ainda, que já oferecemos até local e estrutura para isto, sob forma de doação.

A PMCG não paga a verba que foi votada desde 2003 e aprovada na CÂMARA DE VEREADORES, para ajudar as empresas a custearem a gratuidade dos alunos da rede PÚBLICA.

As empresas, transportam mais de 55% de seus passageiros gratuitamente por dia, sem nenhum subsidio para compensação.

Diante desta situação, as empresas são obrigadas a demitir funcionários, atrasar o pagamento de compromissos e fica sem ter condições de fazer a renovação de frota.

Mesmo com as condições adversas, a VIAÇÃO TAMANDARÉ LTDA, se esforça ao máximo para atender bem a nossa querida população, valendo, portanto, os esclarecimentos acima, a fim de que se possa fazer jornalismo com clareza e conhecimento de causa".

Cordialmente,

Viação Tamandaré Ltda
Sérgio Belém de Morais
Diretor

quinta-feira, setembro 06, 2007

A paranóia do celular!

Prof. Vitor Augusto Longo Braz
Jornalista e profissional de Educação Física.


O mundo contemporâneo assistiu nas últimas décadas ao avanço extraordinário das tecnologias, mais precisamente da microeletrônica, campo que criou os mais sofisticados aparelhos. Diante desta nova realidade, a área de comunicação ampliou suas possibilidades, através da mídia eletrônica que, com seu poder de penetração, tem não somente influenciado mentalidades, como também formado novos valores e relações sociais.

O setor de comunicação, ao incorporar as novas tecnologias, mais especificamente há cerca de três décadas, tornou-se um setor que revolucionou, em todo o planeta, praticamente todas as áreas de atividades, envolvendo economia, política, cultura, a própria organização do tecido social e das relações, além de uma mudança radical de como utilizamos o principal recurso não-renovável, o curto tempo da nossa vida.

“A comunicação não se resume mais no conjunto de instrumentos técnicos que ajudam a conectividade dos seres humanos, ou numa disciplina para especialistas da área. Tornou-se um gigantesco aglomerado onde telefonia (voz), televisão (imagem) e informática (informação) se articulam para formar o que Denis de Moraes chama de infotelecomunicação, presente na lição de casa das nossas crianças, nas escolhas dos produtos do supermercado, nas nossas horas de lazer, na forma de organizarmos o nosso trabalho, no conhecimento que o Estado e empresas tem das nossas atividades, na maneira e no horário de um bombardeio de uma guerra, além da forma como as próprias bombas são guiadas. De certa forma, não podemos evitar ver o óbvio: este conjunto de atividades se agigantou de maneira fenomenal, adquirindo papel absolutamente central nas atividades humanas em modo geral. O que está mudando não é a comunicação, é a sociedade. E a comunicação desempenha um papel-chave nessa transformação. Não é apenas uma área, ou um setor de atividades: [e uma dimensão de todos setores, um vetor intensamente ramificado de transformação social.” (DOWBOR, 2000, p. 7)
[1]

Talvez em nenhuma outra época de nossa história o setor de comunicação tivesse tanta importância para a humanidade como no mundo atual. As profundas e abrangentes mudanças nos mais diversos ângulos do tecido social têm suscitado em um grande número de teóricos da atualidade, concernentes ou não à área de comunicação, denominação para contemplar o contemporâneo: a “Era das Comunicações”.

No que diz respeito às denominações dentro desta conexão da comunicação com a sociedade contemporânea, conforme comenta Antonio RUBIM, (2000, p. 79) em breve revisão acerca desse tempo comunicacional, marcado pelas tecnologias, as expressões múltiplas traduzem as novas realidades: “‘aldeia global’ (Mc Luhan), ‘era da informação’ ou ‘sociedade em rede’ (Manoel Castells), ‘sociedade informática’ (Adam Scahaff), ‘sociedade da informação’ (David Lyon, Krishan Kumar, dentre outros), ‘sociedade conquistada pela comunicação’ (Bernad Miégi), ‘sociedade da comunicação’ ou ‘sociedade dos mass média’ (Gianni Vattimo), ‘sociedade da informação ou da comunicação’ (Ismar de Oliveira Soares), ‘sociedade média-centric’ (Venício Artur de Lima), ‘capitalismo de informação’ (F. Jamesson), ‘planeta mídia’(Denis de Moraes). Todas essas denominações,entre muitas outras possíveis, têm sido insistentemente evocadas para dizer o contemporâneo.” .

Com o advento das novas tecnologias da comunicação e informação, nossa sociedade vive, hoje, num mundo sem o pleno sentido de nação, pois a referência geográfica já não tem grande valor. O que se observa é um mundo desterritoralizado, global, pluralizado culturalmente e com identidades fragmentadas. Vivemos, como muitos teóricos da comunicação intitulam, numa “aldeia global”, onde estamos ou podemos estar, em qualquer parte do universo, num só momento, a partir de um mesmo local. É o que se chama “Cyberespaço”, numa linguagem cibernética que faz referência ao espaço simbólico criado pela Internet e ao princípio da ubiqüidade.

Thompson
[2] (2002, p. 77), ao se referir às novas formas de interação criadas pelo desenvolvimento dos meios de comunicação, ressalta:

“O desenvolvimento dos meios de comunicação não somente criou novas formas de interação, mas também fez surgir novos tipos de ação que tem características e conseqüências bem distintas. A característica mais geral destes novos tipos de ação é que eles são responsivos e orientados a ações ou pessoas que se situam em contextos espaciais (e talvez também temporais) remotos. Em outras palavras, o desenvolvimento dos meios de comunicação fez surgir novos tipos de ‘ação à distância` que se tornaram cada vez mais comum no mundo moderno. Enquanto nas mais antigas sociedades as ações e suas conseqüências eram geralmente restritas aos contextos de interação face a face e as suas circunvizinhanças, hoje é comum ver os indivíduos orientarem suas ações para outros que não compartilham o mesmo ambiente espaço-temporal, e com conseqüências que ultrapassam de muito os limites de seus contextos e localizações.”

Essas transformações decorrentes das tecnologias de última geração acabaram por alterar o estatuto da ética, de forma jamais vista ao longo da história, pois se antes a ética era a representação moral da espécie, algo visto como uma dádiva divina presente na condição ontológica “ser humano”, hoje, a tecnologia aponta para mil e uma possibilidades que alteram tal visão.

Nesse contexto atual, no qual a tecnologia tem papel preponderante, a invasão da privacidade alheia, tem sido como uma aquisição positiva, sobretudo sob o ponto de vista político-policial, os limites são derrubados e o sujeito é tomado por um poder e uma sensação de controle sobre o seu mundo, até bem pouco tempo inimaginável. Há um sentimento de que tudo é possível diante de tecnologias que prometem o controle de todos os atos e desejos dos indivíduos.

Assim, mesmo que não se possa retirar o aspecto positivo dos avanços no campo da tecnociência, principalmente no que se refere, aos cuidados com o seu uso, hoje bem maiores em razão do aprimoramento dos equipamentos que permitem inclusive, visualizar o interior do cérebro e de outros órgãos, promover uma medicina preventiva e/ou predicativa, está ao alcance de todos.

A tecnologia é um dos fatores de subjetivação contemporânea, porque penetra na vida dos sujeitos sociais como algo naturalizado, visto que os novos cenários a consideram como parte da vida humana. Ninguém se imagina mais, no mundo ocidental, sem um aparelho de televisão, sem um aparelho de CD, sem um telefone. Essas ferramentas tecnológicas já fazem parte da vida dos homens, banalizadas pelo uso e, cada vez mais exigindo inovações, pois o mercado competitivo e as características do espaço-tempo pós-moderno, acabam por tornar o novo de hoje, no obsoleto de amanhã.

Com base em uma visão crítico-reflexiva dos poderes adquiridos pelos homens diante da presença maquínica em suas vidas, o que se percebe é a presença de um individualismo novo, espécie de cuidado contemporâneo, que alimenta socialmente os sujeitos, conferindo-lhes a auto-segurança necessária para a aceitação nos grupos em que circulam. Essa espécie de autocuidado muitas vezes ocorre de forma inconsciente, no processo pulsional de vida e morte, na dialética entre o “eu” e os “outros”, o “particular” e o “geral”.

Assim é importante, compreender que o poder de controle sobre o indivíduo, é um aspecto cultivado pelas mídias, que por meio de tecnologias sofisticadas, de certa forma, traduzem o drama, ou as tramas, do ser humano, principalmente no que diz respeito a sua ética e valores interiores.

Hoje, a tecnologia dita o tempo humano através de diferentes registros e o homem depende cada vez mais das ferramentas tecnológicas para garantir o espaço-tempo do movimento do mundo globalizado. O “glocal”, conceito cada vez mais presente nas mídias, coloca o homem de determinado lugar em todos os lugares, uma vez que pelas redes comunicacionais, ele é visto, ouvido e inserido virtualmente em qualquer parte do mundo.

Faço esse longo preâmbulo, embasado em autores teóricos, que tive a oportunidade de ler e estudar, durante o mestrado que conclui em Comunicação e Cultura, pela UFRJ, para chegar finalmente ao assunto, que tem como título esse artigo: “A paranóia do celular”.

Nessa esteira de avanços tecnológicos, órgãos públicos de controle, fiscalização e investigação policial, tem-se utilizado com enorme freqüência da tecnociência para desvendar falcatruas políticas e desvendar crimes diversos. Falar ao celular, hoje, tornou-se, para muitos, uma desconfiança da invasão de sua privacidade, a ponto de deixar paranóicos muitos administradores e gestores da coisa pública. Grampos telefônicos é o que mais se assiste nos telejornais, como instrumento policial e político, no combate a criminalidade e corrupção existente, tanto nos guetos marginalizados, quanto nas repartições públicas diversas, de âmbito federal, estadual e municipal.

Há poucos dias, tive uma ingrata tristeza, ao ligar para um gestor público para falar de um assunto pertinente a sua pasta, na verdade apresentar sugestão e idéias, e o que ouvi desse gestor foi uma grosseria, demandada pelo seu pavor, medo, desconfiança, sei lá o que. O meu interlocutor encurtou de imediato a conversa, alegando que não poderia tratar daquele assunto via celular. Fiquei chateado, pois ao meu ver a tecnologia, no caso o telefone celular, foi criado para facilitar a vida e encurtar o tempo, tão escasso nos dias atuais. Deu a entender que havia um medo, uma paranóia, do referido gestor púbico, quanto a uma possível escuta telefônica.

Minha indignação foi grande, pois o assunto da conversa, que diga-se de passagem, não aconteceu, era de seu interesse e não havia nada de indecoroso no seu contexto, apenas uma idéia e sugestão que queria apresentar a esse gestor público municipal, com objetivo de auxiliá-lo em sua tarefa.

Agindo dessa maneira com as pessoas que lhe ligam, esse gestor público, deixa a imprensão, para os que não o conhecem, de que ele está “devendo” algo, ou até agindo “indecorosamente”, de alguma forma, no trato da coisa pública. Pois, como diz o tão famoso, quanto antigo, ditado popular: “Quem não deve não teme”. Como lhe conheço, sei que sua atitude foi, apenas, de adubado cuidado, com conversas ao celular. No entanto, sua atitude foi grosseira e confesso que fiquei chateado.

Falando por mim, continuarei usando meu celular, sem medo, pois apesar de não ocupar cargo executivo em nenhuma esfera de poder, não compactuo de ações que não condizem com a ética e a moral, preceitos, que devem ser básicos de todo ser humano, principalmente àqueles que lidam com a coisa pública.

Do meu celular podem fazer quaisquer escutas, gravar quaisquer conversas, pois como disse anteriormente: QUEM NÃO DEVE NÃO TEME”!


[1] DOWBOR, Ladislau et all. Desafios da Comunicação. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 7.
[2] THOMPSON, John B. A Mídia e a Modernidade - Uma Teoria Social da Mídia. 4ª ed., 2002, p. 77.