terça-feira, setembro 01, 2009

O Brasil, os internautas e a imprensa

Luiz Felipe Muniz de Souza, advogado e ecologista -
lfmunizz@gmail.com - http://luizfelipemuniz.blogspot.com/ ;

Antes de tudo é preciso que se diga logo aos empresários da tradicional mídia brasileira, e aos seus respectivos chefes de redação, que os internautas não estão, de forma alguma, em uma cruzada pela extinção dos jornais ou de qualquer outro instrumento pertencente ao atual modelo de comunicação de massas, muito pelo contrário! Eu ainda não consigo imaginar o mundo de hoje sem o fundamental papel das grandes agências de comunicação!

Entretanto, também é preciso dizer ao mesmo tempo, que a informação não é algo de domínio privado das empresas de comunicação, e que ela é um elemento de livre circulação em qualquer ambiente social e comunitário, como são as redes virtuais na Internet – Blog’s, Twitter’s, Facebook’s, etc –, não se encontrando mais (a informação), portanto, absolutamente atrelada a uma única e exclusiva fonte ou a uma determinada e única maneira de interpretar os fatos geradores e as suas conseqüências no mundo veloz de agora.

Ou seja, estamos inaugurando um momento único na história da humanidade, onde a tecnologia propicia a livre circulação de todos os sujeitos e atores pelo mundo do conhecimento, e estes se encontram literalmente livres para expressar e compartilhar com todos, ao mesmo tempo, os seus entendimentos e as suas opiniões sobre um mesmo e determinado ato e ou fato social, na ótica de seus próprios valores e experiências, à velocidade de um “click” – da luz propriamente.

Os jornais e a mídia em geral, na verdade, desempenham – e devem continuar desempenhando – um papel público de relevância reconhecida, na busca e divulgação da informação. Mas a própria formatação da divulgação, todos sabemos, passa pelo crivo subjetivo de quem divulga...e quem divulga também insere, tanto na interpretação como no formato do registro dos fatos sociais e políticos, os seus próprios valores e interesses, pessoais e corporativos – não há como fugir disso! Prevalecerá, no verdadeiro “mercado” da opinião pública, a versão mais transparente, a versão mais carregada da maior valia social!

Qualquer curioso que hoje entrar na Internet e vasculhar um pouco além do Orkut, do Msn e dos fóruns de bate-papo atrás de um novo relacionamento “interessante”, irá se deparar com um verdadeiro mosaico de notícias, de informações e de contra-informações no campo das discussões partidárias, políticas e econômicas do mundo e do Brasil – em particular – envolvendo de um lado uma legião de internautas autônomos, independentes e articulados – boa parte deles nos blog’s –, e de outro, as tradicionais redes de telejornais com os seus exércitos de profissionais jornalistas / repórteres e os seus vínculos históricos, por vezes ocultos, com as classes sociais mais afortunadas de nossa velha e carcomida República.

Todo o contexto informativo que tiver como meta e alvo a opinião pública, a partir de agora, terá que saber navegar muito bem neste cenário de complexidades diversas em expansão geométrica. Caso contrário correrá o risco, aí sim, de ficar de fora desta nova experiência da cidadania brasileira e mundial, em sua busca incessante pelo aperfeiçoamento da democracia na face da Terra.

Se por um lado toda a história brasileira, desde o Brasil Colônia, nos traz registros inequívocos da corrupção endêmica junto às instituições públicas, que vem sendo praticada por gerações e gerações de lideranças políticas em simbiose orgânica com os meios de comunicação de massas, nutrindo na cidadania brasileira uma idéia equivocada de Estado para uma minoria de privilegiados, em detrimento e desrespeito descarado para com a grande maioria da população carente...por outro, a presença hoje da Internet e de suas ferramentas fantásticas de comunicação e de expressão, somada à forte inclusão social dos últimos anos no Brasil, representam de fato uma revolução colossal!!

A questão é que acabou o tempo da obscuridade e dos sentidos ocultos na sociedade pós-moderna, o tempo agora é o da Transparência e o da Ética... valores que também se impõem às organizações e às instituições de comunicação pública!

Segundo o Jornalista Carlos Castilho, em recente artigo publicado no Observatório da Imprensa:“Transparência é saber, por exemplo, quanto um jornal ou emissora de televisão deve ao governo ou a bancos privados, qual a composição acionária da empresa ou os interesses corporativos e financeiros de seus proprietários, quais as ligações comerciais, institucionais e familiares dos jornalistas que compõem a redação de uma televisão ou de uma revista.”

Já se torna comum, nos dias de hoje, a construção participativa de Códigos de Ética em empresas e em instituições públicas, e talvez esta também seja uma boa saída para os empresários da grande imprensa, tornando público de antemão os valores buscados e elencados por sua corporação. Nas palavras de Castilho em recente publicação:

“Os códigos de ética participativos são desenvolvidos por funcionários e proprietários de órgãos da imprensa com o objetivo de criar parâmetros consensuais capazes de ajudar na tomada de decisões sobre o que divulgar ou não — e como — em jornais, revistas, emissoras de rádio ou de televisão.”

Não é uma tarefa simples imaginar como ficará o cenário da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão no Brasil, particularmente agora, em que o país se vê sem a Lei de Imprensa (revogada) e com a profissão dos jornalistas desregulamentada pelo Supremo Tribunal Federal, emitindo sinais poderosos de que há uma metamorfose convulsiva se processando. Independente disto, o fato concreto é que, tanto as mídias sociais como a imprensa tradicional, todos estão irremediavelmente atrelados no atual espectro da opinião pública brasileira em formatação! Ainda veremos muito mais, tenho dito!

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